Pequenos sinais de apreço
Um estudo revela que a oferta de presentes influencia decisões de compra, mesmo quando o produto do doador é inferior a outros no mercado


Professores da Universidade da Califórnia publicaram este mês um estudo (MALMENDIER, U. e SCHMIDT, K., “You Owe Me”, disponível em www.nber.org/papers/w18543.pdf) a respeito do efeito dos presentes sobre a tomada de decisões, mostrando que o presentear muitas vezes cria “externalidades negativas”, ou seja, efeitos negativos sobre um terceiro não envolvido na relação. Em uma série de experimentos, descobriu-se que pequenos presentes influenciam fortemente o comportamento do destinatário em favor do doador do presente. E que este efeito é ainda maior quando o “custo” recai sobre um terceiro.
Os casos estudados são, por exemplo, o de um vendedor de determinado produto que visita pela primeira vez um comprador de uma grande loja e o presenteia com uma caneta ou uma caneca com o logo da sua empresa; ou envia a ele um pequeno sinal do seu apreço no fim de ano. Este comprador toma decisões em nome de um terceiro que muitas vezes é anônimo, por exemplo, os acionistas da sua empresa.
O que se obervou é que os sujeitos envolvidos estão cientes de que o presente é dado para influenciar o seu comportamento, mas, ainda assim, retribuem a gentileza; mais interessante ainda, verificou-se que “reter” (não retribuir) o presente desencadeia uma forte reação negativa, e que presentes maiores têm menos impacto: obtêm-se favores maiores com presentes menores. O estudo revela que a oferta de um presente influencia a decisão de compra, mesmo quando o produto do doador do presente é inferior a outros no mercado, prejudicando o melhor interesse da empresa compradora.
Tais práticas têm levantado preocupações e provocado debates regulatórios em diversos países, mesmo passando longe de qualquer suspeita de tentativa de corrupção: as situações examinadas são legalmente e socialmente aceitas e muitas vezes acontecem uma só vez. De toda forma, a doação do presente tem sido apontada, por exemplo, como um dos principais contribuintes para a piora da governança corporativa e, tomando uma esfera totalmente diversa, para um dramático aumento dos custos na área da saúde.
O estudo mostrou que, depois de enviar um presente, o produto do doador é escolhido duas vezes mais frequentemente do que nas situações em que a doação não ocorre. Pior ainda, descobriu-se que não dar um presente tem um efeito sinistro. Se um produtor poderia ter dado um presente, mas optou por não fazê-lo, o tomador de decisão muitas vezes castiga-o, recusando-se a comprar o seu produto. Em outras palavras, presentear corretamente pode ser uma questão de sobrevida ou morte no mercado.
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Mônica Carvalho é economista, mestre em negócios internacionais pela Universidade de Sophia, em Tóquio. Trabalha no mercado financeiro há quase 20 anos, tendo transitado por bancos de investimento no Brasil e na Ásia (Japão e China), onde viveu por dez anos. É professora associada da Fundação Dom Cabral. Nesta coluna ela trará, todas às terças-feiras, artigos acadêmicos com o olhar do espectador contemporâneo.
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Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2012/12/pequenos-sinais-de-apreco.html
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