Por que Apple, Google, Kobo e Amazon lutam pelo mercado de livros digitais no Brasil
Entenda o que move os gigantes na batalha por esse novo segmento de negócios.
Por João Varella

E-readers proporcionam leitura mas agradável, porém sofrem ao competir com as multifuncionalidades dos tablets
Três dos quatro maiores competidores mundiais da área de livros digitais chegaram praticamente ao mesmo tempo no Brasil. Kobo, Amazon e Google estrearam suas livrarias virtuais com apenas algumas horas de diferença nesta semana, em clara tentativa para ver quem chamaria mais a atenção do consumidor. Ao largo do frenesi dos lançamentos desta semana está a Apple, que estreou nesse segmento em outubro no País. O acirramento da competição do setor de livros digitais pode, à primeira vista, causar estranhamento: por que tanta movimentação neste momento num mercado que ainda está embrionário, especialmente no Brasil?
O que se pode afirmar é que o mercado de livros digitais finalmente criou bases sólidas para se massificar. Não foi um processo fácil. Entre os projetos lançados por aqui figuram o Alfa, da Positivo, e o Cool-er, importado pela Gato Sabido, primeira livraria virtual do País. Ambos foram lançados em 2010, mas nunca se tornaram populares – o Cool-er nem é mais comercializado. Atualmente, existem apenas 30 mil e-readers no Brasil, de acordo com a consultoria IDC. Sempre que questionados, porta-vozes da Gato Sabido e da Positivo, no entanto, se dizem satisfeitos com os resultados. Conforme a própria CBL (Câmara Brasileira do Livro) afirma, porém, o preço desses dispositivos pode ter sido um impeditivo. Todos custavam acima de R$ 600, valor próximo ao dos tablets, que oferecem navegação na internet, games e outros serviços – hoje há 2,6 milhões de tablets no Brasil, segundo a consultoria IDC.
De olho no ascendente mercado de tablets, a Apple aproveitou o fato de ser a dona do equipamento mais popular do setor no mundo, o iPad, e passou a oferecer livros digitais aqui no Brasil em outubro deste ano. Com isso, a empresa se livrou da disputa de espaço com as três concorrentes e conseguiu virar a maior vendedora de livros digitais, segundo a DLD, joint venture de sete das maiores editoras do País. O que é vendido na App Store, porém, só roda em dispositivos da própria Apple, o que pode ser um desestímulo para quem tem aparelhos de outras marcas.
Esse é o ponto que o Google quer explorar a seu favor. Embora também não tenha e-reader, ele conta com aplicativos multiplataforma, segundo ressaltou Hugo Barra, vice-presidente de Android, em entrevista à DINHEIRO. “Nosso usuário tem portabilidade e isso parece ter agradado aos brasileiros, pois nem se passaram 24 horas do lançamento e nossos resultados são excelentes”, disse ele, sem abrir dados sobre o desempenho. Um livro comprado em um celular Android pode ser lido no aplicativo da leitora do Google dentro de um iPad, por exemplo. No Brasil, o Google ainda tem a seu favor o fato de ter o sistema mais popular de smartphone. Dados da consultoria Kantar World Panel apontam que os celulares Android correspondem a 56,7% do mercado de celulares inteligentes, enquanto a Apple tem apenas 0,4%. No final da noite de quarta-feira, 5, a Google Play, loja virtual da empresa, passou a oferecer livros e vídeos no Brasil.

Home page da Amazon no Brasil. Empresa vende apenas livros digitais no mercado nacional
O valor é R$ 100 abaixo do leitor Kobo Touch, comercializado no Brasil pela Livraria Cultura. A canadense Kobo e a empresa brasileira dividem agora suas plataformas de vendas virtuais de livros. O aparelho tem tela touchscreen e uma série de recursos que o Kindle não tem. Mas, como a marca da Amazon é forte, é possível que muitos consumidores prorroguem suas vendas à espera do e-reader mais famoso do mundo. “Mas isso também pode gerar um efeito contrário”, diz Carrenho. “Com tanto burburinho ao redor dos livros digitais, as pessoas podem querer comprar agora um equipamento e só vão encontrar o da Kobo Touch”.
Sérgio Herz, CEO da Livraria Cultura, por sua vez, acredita no potencial dos e-readers para atrair os consumidores. Para conseguir isso, ele aposta que recursos presentes no Kobo Touch, como apresentar estatísticas sobre o seu hábito de leitura e o fato de ser uma plataforma para trocar opiniões sobre as obras, seja um argumento comercial a seu favor. “Os leitores assíduos só conseguirão ter uma leitura agradável, da mesma forma como num livro impresso, com um e-reader- e não com um tablet, afirma Herz.".

Sérgio Herz, CEO da Livraria Cultura, fechou parceria com a Kobo
Diante dessa conjuntura, Bruno Freitas, consultor da IDC, diz que as empresas têm condições de desatar o nó dos livros eletrônicos no País. Ele explica que as companhias vão gerar negócios atraentes para as editoras digitalizarem seu conteúdo, o que é essencial para a leitura em e-readers e tablets. “Havia iniciativas pontuais, mas agora isso pode se acelerar e se desenvolver de forma muito mais rápida”, afirma Freitas.
Para Fernando Baracchini, presidente e fundador da Editora Novo Conceito e sócio da DLD, o mercado vai passar por uma “ativação”. “Como editor, é ótimo. O e-book ainda não compete muito com o livro, mas o Brasil é um país com um grande potencial para o surgimento de novos leitores. É um ambiente ótimo para o livro digital”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário