Por que o sucesso das empresas não combina mais com segredos
Para a americana Traci Fenton, fundadora da consultoria WorldBlu, é chegada a hora de as companhias serem democráticas
Sede da Zappos: varejista online incentiva a transparência na divulgação de metas e resultados
São Paulo - A americana Traci Fenton chegou a trabalhar na área de marketing em uma das maiores empresas dos Estados Unidos. Decepcionada com o ambiente corporativo, pediu demissão quatro meses depois e passou a se dedicar cada vez mais à chamada democracia organizacional. O objetivo? Separar o joio do trigo, destacando as empresas que priorizam conceitos como transparência e descentralização.
Fundadora da WorldBlu, entidade que assessora e certifica as companhias compromissadas com a causa, Traci é contra o "comando tradicional", em que as grandes decisões só vêm do topo da pirâmide. Entre as empresas com ambiente democrático apontadas na última lista da WorldBlu, estão nomes como a companhia de saúde DaVita e a varejista online Zappos, comprada pela Amazon em 2009 e considerada precursora na venda de sapatos pela internet.
Confira os principais trechos da conversa.
EXAME.com - O que o conceito de democracia no trabalho realmente significa?
Traci Fenton - Em um quadro de democracia organizacional há maior liberdade, em contraposição ao medo e controle excessivo no local de trabalho. É uma maneira de projetar as empresas para que deem poder significativo às pessoas, ao invés de consolidar o comando tradicional, em estrutura de pirâmide, no qual o poder é privilégio do topo. Quando adotam a democracia organizacional, as companhias são mais eficientes, lucrativas, inovadoras e capazes de atrair e reter talentos.
EXAME.com - Qual foi sua inspiração para criar a WorldBlu?
Fenton - Fundei a WorldBlu em 1997, quando ainda era uma universitária começando a descobrir o conceito de democracia organizacional. Depois da faculdade, fui trabalhar em uma companhia da Fortune 500 (lista das empresas americanas com maior receita). A ideia era me sustentar enquanto levantava minha empresa do zero. Estava ansiosa para o novo trabalho, pronta para me envolver, participar e dar o meu melhor. Mas no final do primeiro expediente, percebi que aquela experiência seria tóxica e desumana. Não desejava aquilo para os próximos 30 anos da minha vida. E nem para a trajetória profissional de ninguém.
EXAME.com - Você se afastou da empresa logo em seguida?
Fenton - Pedi demissão quatro meses depois. Quando saí, meu chefe me disse: "Eu sabia que você não aceitaria ser tratada como as pessoas daqui." Até ele reconhecia que aquele era um ambiente de trabalho terrível, mas não fazia nada para mudá-lo. Enquanto a WorldBlu crescia, eu trabalhei em alguns outros locais, entre eles uma ONG nacional. Também fiz mestrado em Desenvolvimento Internacional pela American University. Ainda no curso, trabalhei na bolsa de valores Nasdaq, dividindo meu tempo entre Nova York e Washington. Saí da Nasdaq em 2001 e passei a me dedicar integralmente à WorldBlu. Hoje, estamos em 80 países do mundo.
Fenton - Listamos dez princípios fundamentais que criam a democracia organizacional. Entre eles estão a transparência, o diálogo e a adoção de critérios claros de contabilidade (os demais podem ser acessados no site da WorldBlu). Eles são frutos de uma pesquisa de uma década sobre o que é a democracia e o que é necessário para que um sistema democrático realmente funcione. E todos os dez princípios precisam estar em operação para que haja democracia corporativa, não apenas alguns.
EXAME.com - Como você vê a movimentação das empresas brasileiras rumo a esses novos padrões?
Fenton - O Brasil é o lar de um dos modelos mais conhecidos e respeitados da democracia organizacional, a Semco. A empresa já esteve à beira da falência, passou por uma grande mudança e se tornou uma companhia próspera e democrática, sobrevivente de muitos picos e vales econômicos. O CEO da Semco, Ricardo Semler, já escreveu best-sellers de gestão e ele, junto com seus outros colegas na empresa, são uma fonte de inspiração para mim e muitos outros no mundo. Acredito fortemente que no Brasil existam outras companhia com visão de futuro. Mas ainda não temos nenhuma organização certificada pela WorldBlu* no país.
* A participação na lista é paga: para ganhar o certificado da WorldBlu, as empresas se inscrevem em um processo seletivo e desembolsam uma taxa anual que chega a, no máximo, 7.997 dólares para companhias com mais de 1.000 funcionários. Em seguida, de 70% a 100% do quadro de funcionários da empresa responde a um questionário. A partir daí, a empresa pode - ou não - se tornar membro da WorldBlu, a depender dos resultados apontados na pesquisa.
Fonte: http://exame.abril.com.br/negocios/gestao/noticias/uma-empresa-pode-se-tornar-democratica-worldblu-responde?page=2
Fenton - Pedi demissão quatro meses depois. Quando saí, meu chefe me disse: "Eu sabia que você não aceitaria ser tratada como as pessoas daqui." Até ele reconhecia que aquele era um ambiente de trabalho terrível, mas não fazia nada para mudá-lo. Enquanto a WorldBlu crescia, eu trabalhei em alguns outros locais, entre eles uma ONG nacional. Também fiz mestrado em Desenvolvimento Internacional pela American University. Ainda no curso, trabalhei na bolsa de valores Nasdaq, dividindo meu tempo entre Nova York e Washington. Saí da Nasdaq em 2001 e passei a me dedicar integralmente à WorldBlu. Hoje, estamos em 80 países do mundo.
EXAME.com - O que as empresas democráticas têm em comum?
Fenton - Listamos dez princípios fundamentais que criam a democracia organizacional. Entre eles estão a transparência, o diálogo e a adoção de critérios claros de contabilidade (os demais podem ser acessados no site da WorldBlu). Eles são frutos de uma pesquisa de uma década sobre o que é a democracia e o que é necessário para que um sistema democrático realmente funcione. E todos os dez princípios precisam estar em operação para que haja democracia corporativa, não apenas alguns.
Fenton - O Brasil é o lar de um dos modelos mais conhecidos e respeitados da democracia organizacional, a Semco. A empresa já esteve à beira da falência, passou por uma grande mudança e se tornou uma companhia próspera e democrática, sobrevivente de muitos picos e vales econômicos. O CEO da Semco, Ricardo Semler, já escreveu best-sellers de gestão e ele, junto com seus outros colegas na empresa, são uma fonte de inspiração para mim e muitos outros no mundo. Acredito fortemente que no Brasil existam outras companhia com visão de futuro. Mas ainda não temos nenhuma organização certificada pela WorldBlu* no país.
* A participação na lista é paga: para ganhar o certificado da WorldBlu, as empresas se inscrevem em um processo seletivo e desembolsam uma taxa anual que chega a, no máximo, 7.997 dólares para companhias com mais de 1.000 funcionários. Em seguida, de 70% a 100% do quadro de funcionários da empresa responde a um questionário. A partir daí, a empresa pode - ou não - se tornar membro da WorldBlu, a depender dos resultados apontados na pesquisa.
Fonte: http://exame.abril.com.br/negocios/gestao/noticias/uma-empresa-pode-se-tornar-democratica-worldblu-responde?page=2
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