segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

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Para reagir ao avanço das redes sociais e dos smartphones, os fabricantes equipam suas câmeras fotográficas com acesso à internet e oferecem cursos de capacitação para os consumidores.

Por Diego MARCEL

Em 2001, a Apple causou frisson no mercado ao lançar o tocador de música iPod. Com design elegante e um controle em formato circular, o aparelho fez sucesso imediatamente. Seis anos depois, a própria Apple lançou o iPhone, smartphone que, por ter embutida a função de tocador digital, fez as vendas do antigo aparelho perderem fôlego. Hoje, o iPod não é mais o sonho de consumo dos usuários e suas vendas estão em declínio. Esse exemplo ilustra bem como a evolução tecnológica força mudanças nos humores do mercado, fazendo com que produtos vencedores passem de protagonistas a coadjuvantes em pouco tempo. O ponto a ser observado aqui é que, ao reunirem múltiplas funções, os smartphones se mostraram opções versáteis para os consumidores, que podem usá-los para conversar, jogar, navegar na internet e tirar fotografias. 
 
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De todos os mercados associados a essas atividades, um deles sofre de modo particular com sua popularização: o de câmeras fotográficas. Isso porque a qualidade dos recursos de fotografia acoplados aos celulares tem melhorado de forma constante. O resultado disso é que muitos consumidores deixam de comprar máquinas e usam seus celulares para registrar cenas do cotidiano, como encontros de família e viagens. O iPhone 5 e o Galaxy SIII, por exemplo, têm câmeras de oito megapixels (mp), que tiram fotos em alta resolução. Com essas características, as fotografias tiradas nos smartphones não deixam nada a desejar para as câmeras fotográficas de entrada das principais marcas do setor. 
 
Diante desse cenário, fabricantes como FujiFilm, Panasonic e Sony estão revendo suas estratégias. Um das alternativas encontradas pela indústria para não perder mercado é oferecer cursos de fotografia aos clientes, na esperança de que assim eles se tornem mais exigentes e adquiram máquinas semiprofissionais. Outra medida é equipar as câmeras com acesso à internet. Os números do mercado ajudam a entender as transformações do setor. Levantamento da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) indica que, de janeiro a novembro de 2012, foram vendidos 3,4 milhões de câmeras no País, apenas 110 mil a mais que no mesmo período de 2011. Embora represente uma expansão, o resultado é pífio e deve cair nos próximos anos. 
 
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Cursos: para atrair clientes para seus produtos, a Sony, de Carlos Paschoal, oferece aulas a distância
 
A FujiFilm, por exemplo, já se prepara para um mercado mais enxuto. Segundo Michela Hamai, gerente de marketing da empresa, vendas menores de produtos de entrada resultarão numa queda no total de aparelhos comercializados pelo setor nos próximos anos. “Mas os modelos compactos não morrerão. Muitas pessoas ainda vão adquirir sua primeira câmera.” Para continuarem atraentes, as máquinas estão recebendo novas funções. Os equipamentos hoje contam com recursos como fotos panorâmicas e outros efeitos, que alguns aparelhos móveis não têm. Esses atributos “opcionais” elevam o valor dos aparelhos, o que pode manter margens razoáveis. No caso da Panasonic, no entanto, cuja maior parte dos consumidores pertence às classes sociais de menor poder aquisitivo, as apostas para manter aquecida sua divisão de câmeras são os preços baixos. 
 
Outro caminho é recorrer a um ídolo do futebol em suas campanhas publicitárias: Neymar. “Contar com ele ajuda na imagem da marca, no reconhecimento e nas vendas, especialmente fora das grandes cidades”, afirma Fernando Ogava, gerente de marketing da Panasonic. A Samsung, por sua vez, deposita suas fichas em aparelhos que permitem postar fotos em redes sociais. É o caso dos modelos NX1000 e Galaxy Câmera. “Fizemos uma pesquisa e constatamos que o público valoriza a conexão”, diz Thiago Onorato, gerente de digital imaging da Samsung no Brasil. Se o apelo da conectividade atrai um contingente enorme de consumidores para as câmeras populares, estimular a paixão pela fotografia pode ampliar as vendas de equipamentos semiprofissionais. 
 
Esse é o caminho escolhido pela Sony. A companhia criou recentemente o programa Sony Educa, que ministra cursos de fotografia pela internet a preços bem acessíveis: a partir de R$ 5,90 por módulo. Para se cadastrar, o usuário não precisa ser proprietário de uma câmera da empresa japonesa. Mas, como as instruções são baseadas na tecnologia da Sony, o consumidor pode ser levado a adquirir um equipamento da fabricante. Além disso, os alunos recebem descontos na compra de máquinas da marca. “O objetivo dos cursos é colocar o consumidor em contato com tudo o que uma câmera nossa pode oferecer”, afirma Carlos Paschoal, gerente-geral de marketing da Sony. “Assim, pode ser mais fácil torná-lo nosso cliente.”
 
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